Perguntem!

Chegar num lugar novo é uma boa oportunidade de se enxergar no olhar alheio. Aqui em Recife, a medida que vou fazendo amizades, percebo que é cada vez mais frequente que me perguntem qual é o meu pronome.

Pois. Sou uma pessoa não-binária. Isso quer dizer que não me reconheço em nenhum dos padrões femininos e masculinos definidos socialmente.

Nem nos papeis sociais, nem nos valores, nem no visual, nem na gestual, nem na minha identidade mais profunda. Sinto que há necessidade – e no caso, não estou a fim – de me encaixar em nada, por mais que isso seja uma briga cotidiana perante a sociedade.

Falando em pronome, eu atendo todos. Ele/dele, ela/dela, elu/delu (neutro). Notem que isso não é o caso de todas as pessoas não-binárias. Muitas têm preferência. Na dúvida, pergunte! Perguntar não ofende, pelo contrário: mostra que você se importa com isso e procura acolher (por mais que erre depois, ninguém é perfeito). A Lukkam publicou um vídeo massa a respeito, olha lá no perfil dela.

Laerte genial (como sempre)

Agora, já que estamos no mês da visibilidade intersexo (o dia é quarta, 26 de outubro), aproveito para dizer que, além de não-binárie, eu sou intersexo também. Parece que não nasci para viver num mundo cis-hetero-normativo. Ou melhor: devo ter nascido para mandar ele a m…

Notem que não-binarismo e intersexo são dois conceitos bem diferentes. O primeiro refere à identidade de gênero (como você se identifica e se comporta socialmente), o segundo tem a ver com o corpo biológico.

Resumindo (muito), a ciência ocidental teima em dividir os corpos humanos em apenas dois grupos – masculino e feminino – baseados em um conjunto de caraterísticas comuns. O problema é que essa divisão não condiz com a realidade. Desde sempre, existem corpos que nascem com genitália ambígua. Outros que se destacam na adolescência, por questões hormonais, de desenvolvimento fisiológico ou pilosidade, por exemplo (sim, o bigodim é natural 😉 ). Outros que, apesar de terem aparência bem definida de “mulher” ou “homens”, apresentam diferenças nos seus órgãos internos.

Um fato importante é que muitas pessoas intersexo só se descobrem numa idade avançada da vida. Muitas, inclusive, nunca ficam sabendo.

O que a maioria das pessoas intersexo tem em comum, apesar da grande diversidade de quadro, é a péssima relação com a medicina ocidental que trata as nossas diferenças como doença. São cirurgias compulsórias (e desnecessárias) em recém-nascides e/ou terapias hormonais receitadas ao longo da vida sem conversa nem explicação. Isso, sem falar em múltiplas situações de humilhação que se passa na frente do/as médico/as.

Segundo a OMS, pessoas intersexo representam entre 1 e 2% da população mundial – uma galera! Mas aposto que somos bem mais do que dizem os números.

Para mais informações sobre o tema, siga a Abrai (Associação Brasileira Intersexo) nas redes sociais. Qualquer coisa, acho que consigo responder uma perguntas também. PERGUNTEM!

This entry was posted in BLOG and tagged , , , , . Bookmark the permalink.

Deixe uma resposta