Haja paciência(?)

Miséria é algo que se vê em todos cantos do mundo, com situações que eu provavelmente ainda sou muito longe de poder me representar. Agora, a marca de fábrica de um país tão desigual como o Brasil – onde, vale lembrar, 1% da população detém 50% das riquezas – é sem dúvida a podridão da classe alta. É uma ostentação nojenta, uma necessidade absurda de crescer mais e mais, pisando na cara dxs que não têm nada.

Neste fim de semana, visitei um conjunto de assentamentos de mais de cem famílias no interior do Pernambuco. Casas de alvenaria, escola, igreja, alta produção agrícola – tudo fluindo… aos trancos e barrancos. Moradores me contaram que a posse da terra, emitida em 1997, foi cancelada alguns anos depois e que até hoje, nada está resolvido na justiça. Ou seja, centenas de pessoas que vivem ali há décadas – estou falando inclusive de adultos que nasceram ali – ainda correm o risco de ter que abandonar, de um dia para o outro, o seu lar e a sua roça. Isso porque a magra conquista que tiveram feriu o orgulho de mais um (podre de) rico endividado com o Estado, que não usava essas terras para nada, porém faz questão de mostrar que quem manda é ele.

Nestas fotos, tiradas em Recife, no rio Pina, com vista na favela de Brasília Teimosa e nas palafitas do Bode, a situação é parecida. É a história repetida do povo lutando para construir suas casas – removidas inúmeras vezes – enfrentando maré, miséria, fome e até aqueles incêndios “casuais” que costumam acontecer nos territórios em disputa e fazem milagrosamente o jogo da especulação imobiliária. Pois então, depois de décadas de resiliência e muita conquista, essas famílias seguem (ou voltam a ser) ameaçadas, pressionadas, expulsas por aqueles que já são donos de 95% da orla e enxergam ali mais uma área “nobre” pros seus negócios – quer dizer: para lavar dinheiro e sonegar imposto. Ou talvez queiram apenas fazer mais uma demonstração de poder, exibir a sua opulência, jogar na cara da sociedade o seu cinismo sempre vencedor e o seu desprezo infindo por qualquer vida humana. Haja paciência. Ou não.

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